sábado, 7 de maio de 2011

Notícias publicadas na Gazeta de Lisboa (7 de Maio de 1808)



Lisboa, 7 de Maio 


Segundo as últimas notícias de Baiona [sic], Sua Majestade o Imperador e Rei continuava a estar naquela cidade, onde parecia dever em breve reunir consigo a Família Real de Espanha, como também um certo número de Grandes daquele Reino que se encaminham para a mesma destinação. 

É um belo e novo espectáculo na Europa o ver um Monarca que, chegado ao cume da glória e do poder, consente em se dar por árbitro entre um pai e um filho que enchem há vários meses a Europa das suas acusações recíprocas, e põe assim os povos numa espécie de incerteza de qual dos dois é aquele a quem devem obedecer. Cumpre esperar o resultado daquele nobre arbítrio, o qual vai mostrar às nações que a sua causa não tornará a ficar abandonada às intrigas e aos caprichos de alguns cortesãos, que de ordinário se ocupam mais em disputar entre si a autoridade do que em assegurar o bom êxito das combinações úteis ao bem da humanidade. 

Ao mesmo tempo, o Príncipe da Paz, cometido pelas autoridades espanholas a 600 dragões franceses encarregados de defendê-lo da indignação de um povo, à custa do qual soube acumular o mais escandaloso cabedal, que dizem deita a mais de 500 milhões de libras turnezas, se vê, por outra parte, conduzido para França. O acto da entrega diz que ele não pode jamais tornar a entrar em parte alguma dos domínios de Sua Majestade Católica. 


Pelas ordens cuja execução confiou o Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Duque de Abrantes ao Intendente Geral da Polícia do Reino, é já de notar muito maior asseio nas ruas de Lisboa, dum grande número das quais se vão também tirando os entulhos que as obstruíam; e está quase destruída a multidão de cães que de dia e noite andavam pela cidade e interrompiam a quietação. 

Sua Excelência o General em Chefe também deu ordem para que se desembaraçasse a magnífica Praça do Comércio do grande número de barracas de pau que a empachavam, de sorte que se possa por ela passear sem obstáculo. Já se deu princípio aos preparativos necessários para este efeito. 

A cidade de Lisboa continua a gozar do maior sossego. Entre os habitantes e a guarnição, assim francesa como espanhola, reina a melhor inteligência. O povo sabe que o Governo, em quem tem posto tanta confiança como se existissem há largos anos, procede com toda a vigilância para acudir às suas precisões; e entrega-se ao seu trabalho com tanta seguridade como o fazia nas circunstâncias passadas as mais pacíficas. 


[Fonte: Segundo Suplemento à Gazeta de Lisboa, n.º 18, 7 de Maio de 1808].


Edital publicado em Cádis, referente aos motins do 2 de Maio em Madrid e ordenando a boa harmonia (7 de Maio de 1808)



Faço ciente aos habitantes da cidade de Cádis que o sr. D. Gonzalo O’Farril, Secretário de Estado e da Guerra, me comunicou o seguinte em data de 3 de Maio:

Um sucesso provocado por algumas pessoas desobedientes às leis causaram ontem uma desordem nesta Corte [de Madrid], cujo resultado poderia ser triste para todos os habitantes honrados e distintos desta cidade, se a prudência e patriotismo dos cônsules e alcaides dirigidos pela Suprema Junta do Governo não conseguissem sossegar tudo antes da noite. Sua Alteza [o Infante] D. António, por conselho da mesma, ordenou que se juntasse a Audiência Real para consultar e adoptar imediatamente as medidas necessárias para manter inviolavelmente toda a boa harmonia com as tropas francesas, tirando as classes inferiores dos seus erros ou mau entendido zelo, do qual só lhes pode resultar desgraça a eles, envolvendo a parte dos habitantes inocentes na sua total ruína. 

A Junta do Governo exige também que V.Ex.ª faça constar a todos os reverendos bispos, prelados de comunidades, párocos, nobreza e justiças dos distritos, as direcções dadas sobre este importante negócio, para que eles concorram para o mesmo fim com o que depender da sua parte, já com autoridade, já com os conselhos próprios do seu ministério. V.Ex.ª recomendará que em todas as partes por onde passarem as tropas francesas se lhes continuem a fazer o mesmo bom acolhimento que até aqui [foi feito], suprindo-os generosamente de tudo que necessitarem; tomando as justiças a seu cuidado punir qualquer [um] que maltrate algum indivíduo desta dita nação; finalmente, que V.Ex.ª seguirá em tudo o sistema adoptado pela Junta do Governo, fazendo publicar no seu distrito que as intenções do nosso Soberano são conservar a felicidade da nação, integridade do seu território, privilégios de suas províncias, conservação de todas as classes, e respeito inviolável à propriedade. O que eu comunico tudo à vossa nobre e leal cidade, para [que] fiquem todos certos da protecção do nosso digno Soberano e da Junta do Governo; para segurar a felicidade da nação, sossego dos seus amados vassalos, e rejeitar todos os boatos que a malícia e ignorância possam inventar em contrário. 

Cádis, 7 de Maio de 1808. 

Manuel de Lapeña 


[Fonte: Arquivo Histórico Militar, 1.ª div., 14.ª sec., cx. 287, doc. 09, fls. 01-03].