segunda-feira, 18 de julho de 2011

Edital afixado em Lisboa (18 de Julho de 1808)




[Fonte: 1.º Supplemento à Gazeta de Lisboa, n.º 28, 20 de Julho de 1808].

Notícias publicadas na Gazeta de Lisboa (18 de Julho de 1808)



Lisboa, 18 de Julho


Havendo muitos mancebos que se acham em Lisboa pedido ao Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Duque de Abrantes que lhes permitisse armar-se, equipar-se à sua custa e servir junto da sua pessoa como voluntários de ordens, anuiu Sua Excelência ao seu pedimento. Portanto, o dito corpo, comandado por mr. Bastia, militar que fora, se apresentou já a Sua Excelência, por quem foi acolhido dum modo muito afável e benigno.
O General em Chefe lhe prometeu fornecer-lhe ocasião de distinguir-se, combatendo, se o caso o pedisse, a seu lado contra todos e quaisquer inimigos de Sua Majestade o Imperador e Rei.

O corpo de tropas que se expedira para varrer a costa desde Peniche até acima de Leiria não pôde achar aí nem inimigos que combater, nem rebeldes que punir; o que tão somente se encontrou foram alguns indivíduos semelhantes que se atreveram a esperar no forte da Nazaré, à roda do qual se dissera que se tinha efectuado um desembarque, que nunca existiu. Aquele forte foi tomado num instante, ficando prisioneiro o pequeno número dos que nele se achavam. Os ingleses, na persuasão de que os indivíduos que seduzem para conduzi-los à morte estavam nessas paragens em grande número, puseram ali em terra poucos dias antes alguns morteiros e obuses duma forma particular, os quais não deixarão de nos ser úteis; deles nos apoderámos, em vez de deixá-los ir à sua destinação.

Lisboa continua a gozar duma grande tranquilidade, apesar do vão terror que certos indivíduos, que se conhecem e sobre os quais se vigia de perto, procuram espalhar; e apesar das exagerações que a malevolência divulga ou que a inadvertida crueldade adopta cegamente sobre a entrada de alguns pequenos corpos de paisanos espanhóis em algumas partes das fronteiras. Sem dúvida é esse um mal momentâneo a que certas combinações de uma ordem superior não permitem dar remédio tão prontamente como se desejara, porque convém esperar que se desenvolva um plano geral ditado pela mais profunda sabedoria. Que são porém algumas partidas espanholas contra um exército tal como o do Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Duque de Abrantes, pronto a esmagá-las a elas e aos seus cúmplices, quando menos o esperarem? Como é possível que se deixe de ver por outra parte que esses espanhóis, afora qualquer outra causa coactiva, terão de voltar precipitadamente à sua pátria, à medida que as tropas francesas, que se vão adiantando, submeterem o interior do seu país, assim como já têm submetido o norte e a capital do mesmo; e que então, ao mais tardar, abandonarão aqueles dos portugueses que tiverem desatinadamente abraçado a sua causa à animosidade de um vencedor justamente irritado?
Para ajuizar do resultado dos acontecimentos actuais, não se deve fugir deste pensamento decisivo e bem próprio para conter na ordem e no dever todos os homens de razão: Que pode a Espanha, que poderiam até mesmo algumas províncias revoltadas de Portugal, quando, em vez de estarem sem chefes, sem concentração, sem interesses comuns, se vissem reunidas contra aquele gigante da França tantas vezes vitoriosa da Europa e dirigida pelo Grande NAPOLEÃO?

[Fonte: Gazeta de Lisboa, n.º 28, 18 de Julho de 1808].