segunda-feira, 25 de julho de 2011

Carta de William Warre ao seu pai, sobre a chegada do exército britânico à foz do Douro (25 de Julho de 1808)



Enseada do Porto, 25 de Julho de 1808

Meu querido pai:

Hoje de manhã chegámos aqui, onde se tinha convocado o encontro e reunião [das várias embarcações vindas da Inglaterra]. Ainda não consegui comunicar com a costa, e é pouco provável que consiga ver os meus amigos aqui ou mesmo em terra. Acabaram de me informar que uma fragata parte para a Inglaterra, e esta embarcação só está espera que acabe a minha carta para poder partir, de maneira que somente tenho tempo para dizer que todos estamos bem. Penso que iremos desembarcar em Lisboa e atacar Junot. Esta é a minha ideia, mas nada se sabe. Seria impossível, para não dizer frustrante (por não ser capaz de descrevê-lo), expressar os sentimentos que tive ao ver o lugar do meu nascimento, o sítio onde vivi alguns dos dias mais importantes da minha vida. Se desembarcarmos, tereis novas notícias minhas, logo que tiver oportunidade. Agora estão a chamar-me para que lhes entregue minha carta.
O vosso filho sempre afeiçoado,

William Warre

[P.S.] Abri esta carta para dizer que tenho uma mensagem do Comodoro, que diz que lamenta por não me ter sido possível desembarcar, pois [os oficiais] apenas esperam que Sir Arthur Wellesley regresse para se fazerem à vela. Eles estão a combinar disposições para a ancoragem da frota e para o desembarque. Spencer irá reunir-se connosco. Estou bastante desapontado por não ter desembarcado ou comunicado com a costa.

Adeus,
Com as maiores saudades.


Carta do General Wellesley a Lord Castlereagh, secretário de Estado da Guerra da Grã-Bretanha (25 de Julho de 1808)



Crocodile, na barra do Porto, 25 de Julho de 1808 


Meu caro Senhor: 

Aproveito o regresso da [chalupa canhoneira] Peacock à Inglaterra para vos informar que parti da Coruña, como vos disse que faria, na noite de 21, juntei-me à frota no dia seguinte, e cheguei aqui ontem na [fragata] Crocodile; a frota está vindo agora. 
Todas as províncias a norte do Tejo, excepto o território imediatamente à volta de Lisboa, estão num estado de insurreição contra os franceses, e o povo está pronto e ansioso por tomar armas, mas infelizmente estas não existem no país; para dizer a verdade, não existem armas algumas para armar as tropas que o Bispo do Porto e a Junta deste lugar reuniram. Eles têm presentemente um corpo de cerca de 5.000 homens de tropa regular e milícias, incluindo 300 de cavalaria em Coimbra, armados com 1.000 mosquetes fornecidos pela frota [inglesa], caçadeiras, etc; e 12.000 paisanos, a maioria desarmados, pelo que creio. 
As tropas regulares são compostas de destacamentos de diferentes corpos, e não podem ser consideradas em aspecto algum como uma força eficiente. Apesar disto, estão aqui 300 espanhóis de infantaria e cerca de 1.500 portugueses de infantaria regular, e alguns milicianos voluntários e paisanos. 
O corpo da infantaria espanhola que começou a marchar da Galiza, como vos informei na minha última carta, ainda não chegou. Foi travado na fronteira, porque não havia ordens em Bragança para se permitir que entrassem no país; e, apesar do Bispo esperá-lo, parece que os oficiais portugueses pensam que o êxito do exército francês sobre o espanhol, no dia 14, desviou este corpo da causa deste país. Perante todas estas circunstâncias, determinei levar à frente o corpo português que agora está em Coimbra, e reunir tudo o demais nesse lugar. 
O Bispo está muito alarmado em relação ao êxito dos franceses na província de Valladolid, em Leão. Diz-se aqui que houve uma segunda acção; e ontem à noite vi uma carta do Bispo de Santiago, declarando que o General Cuesta, o Comandante em Chefe castelhano, o informara que tinha obtido uma vitória nesta acção, e realmente tinha no seu campo 1.500 cavalos tomados à cavalaria francesa; e ao mesmo tempo declarando que os franceses estão actualmente em Benevente. É impossível perceber a verdade. 
Recebi uma carta de Sir Charles Cotton, do passado dia 9, na qual me avisava para deixar a frota a barlavento e descer até ao Tejo para conferenciar consigo. Ele mandou ocupar um posto com 400 soldados da marinha na Figueira [da Foz], perto do Mondego, diante de Coimbra; pensando que é aí, ou mesmo em Peniche, o lugar mais aconselhável para o meu desembarque. Propus assim enviar a frota para o Mondego, preparar as condições de desembarque, e descer para discutir com o Almirante; e quando tiver regressado, tudo estará já pronto para o desembarque no Mondego ou em Peniche, ou até mais para sul, se o Almirante pensar que é mais aconselhável. 
Não tenho notícias certas de Spencer, exceptuando que esteve com Sir Charles Cotton no início deste mês; o seu corpo desembarcou, somente para preservar a saúde dos homens, perto do Cabo de Santa Maria [a sul de Faro]. Deduzo assim que o encontrarei com a esquadra na foz do Tejo. 
O corpo francês está concentrado em ou à volta de Lisboa, e diz-se que consiste entre 13 a 14.000 homens. Sir Charles Cotton diz que eles estão reunindo-se para guarnecerem as fortificações e a cidadela da cidade, bem como o forte de S. Julião. 
Devem-se adoptar medidas para fornecer armas e dinheiro a este país. Vi uma declaração ontem à noite, na qual se vê que eles conseguiriam reunir 38.000 homens com facilidade, se tivessem armas ou dinheiro para os pagar. Se encontrar tropas em Coimbra que valham a pena, tenho intenções de armá-las. 

Sempre, meu caro Senhor, o vosso mais sincero, 
Arthur Wellesley 

PS: As tropas espanholas da Extremadura entraram na fronteira oriental de Portugal, e ocuparam todos os postos em ambos lados do Tejo, excepto Elvas e Almeida, que ainda estão seguras por pequenos destacamentos de franceses. 

[Fonte: Lieut. Colonel Gurwood (org.), The Dispatches of Field Marshal the Duke of Wellington, K. G. during his various campaigns in India, Denmark, Portugal, Spain, the Low Countries, and France, from 1799 to 1818 – Volume Fourth, London, John Murray, 1835, pp. 30-31; Charles William Vane (org.), Correspondence, Despatches, and other Papers of Viscount Castlereagh, second Marquess of Londonderry – Vol. VI, London, William Shoberl Publisher, 1851, pp. 386-388]. 

Notícias publicadas no Correio Braziliense relativas às movimentações dos exércitos portugueses, franceses e ingleses em Portugal (25 de Julho de 1808)



Porto, 25 de Julho 


O General Loison, que havia sido mandado por Junot a tomar posse do Porto, recolheu-se a Lisboa de se lhe haver frustrado a empresa e ter perdido grande parte do corpo que comandava. Depois partiu para Santarém, para formar aqui um posto avançado a Junot, sobre a estrada de Coimbra e caminho de Abrantes; ao mesmo tempo que o General Laborde se postou em Leiria para comandar a estrada nova de Coimbra. Junot concentrou em Lisboa as forças que tinha em Évora e Elvas, com o que tem junto um exército de 16.000 homens. 
O exército dos patriotas portugueses se avançou até Coimbra, e consiste agora das seguintes tropas:

Infantaria regular


7.000
Infantaria de milícia


10.000
Infantaria de ordenança


15.000
Cavalaria montada


500
Cavalaria desmontada


1.000


Total
33.500


O General Manuel Jorge Gomes de Sepúlveda dispunha-se, com as tropas que ajuntou de Trás-os-Montes, a investir [sobre] Almeida, onde havia uma guarnição francesa. 
O General Arthur Wellesley chegou com a divisão do seu comando a Coruña e saltou em terra; mas logo tornou a embarcar e procedeu em sua viagem; aos 23 do corrente desembarcou no Porto, e no dia seguinte, havendo tratado com o Governo, tornou para a esquadra inglesa tomando a derrota do sul. 
Aos 12 de Julho desembarcaram na Figueira 350 soldados de marinha da esquadra inglesa; e neste mesmo dia entraram no Porto 64 soldados franceses que os estudantes aprisionaram em Coimbra.