sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Carta de Manuel Pais d'Aragão Trigoso, Vice-Reitor da Universidade de Coimbra, ao General Bernardim Freire de Andrade (12 de Agosto de 1808)




Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor:


Vou comunicar a Vossa Excelência notícias da última e mais séria importância, que acabam de comunicar-se-me de viva voz, mandadas imediatamente de Lisboa por pessoa da minha amizade, e também da de Vossa Excelência. O portador aí há de ir, mas não pode chegar tão cedo como esta carta, que mando por um correio. A principal notícia que interessa mais saber-se logo para a direcção do Exército é que a coluna do inimigo comandada por Laborde, que está em Rio Maior, serve só de força para entreter o Exército português, e entretanto marchar o que se acha em Tomar para vir arrasar Coimbra, que tem sido a pedra de escândalo em todos os Conselhos de Estado; a certeza de estar já em Tomar esta coluna já aí há de constar; e o resto, uma vez que foi deliberado e decidido em Conselho de Estado, é bem de esperar [que] se execute. A minha cabeça é de pouco interesse para o Estado, mas a ruína total, decretada, de Coimbra, merece toda a contemplação, e não deve olhar-se como coisa indiferente. Queira Vossa Excelência pensar seriamente e prontamente sobre este objecto, certo de que não é o medo e a cobardia quem medita o que lhe digo, mas sim o saber que não me engana quem me manda comunicar o que lhe digo.
Deus guarde a Vossa Excelência muitos anos.
Coimbra, 12 de Agosto de 1808, às nove horas da noite.

De Vossa Excelência o mais atento fiel e obrigado criado,

Manuel Pais d'Aragão Trigoso

[Fonte: António Pedro Vicente, "Um soldado da Guerra Peninsular - Bernardim Freire de Andrade e Castro", in Boletim do Arquivo Histórico Militar, n.º 40, 1970, pp. 202-571, pp. 439-440].

Ordem de marcha do Exército Anglo-Luso (12 de Agosto de 1808)




Leiria, 12 de Agosto de 1808.


[...] O Exército marchará amanhã às 4 horas da manhã em duas colunas, pela sua direita. A coluna da direita é composta pelo Regimento n.º 20 de Dragões ligeiros, pelo Estado-Maior, pelas 6.ª, 1.ª, 3.ª e 5.ª Brigadas de Infantaria, o Parque de Artilharia, e o Depósito do Comissariado. Esta coluna será conduzida pelo major Rainey, Ajudante do Quartel-Mestre-General. O Capitão Gomme conduzirá a 3.ª e a 5.ª Brigada na segunda linha, através da cidade [de Leiria].
A coluna da esquerda, composta por cinquenta Dragões do 20.º e por cinquenta da Cavalaria portuguesa, pelas 2.ª e 3.ª brigadas de Infantaria e pelas Tropas portuguesas, passará pela Batalha. Esta coluna será conduzida pelo Capitão Langton. O Alferes Laing, do Estado-Maior, conduzirá a 4.ª Brigada a partir da sua actual posição, através da vila.
Todos os carros seguirão junto à coluna da direita. Uma peça de artilharia, sem trem, irá com a coluna da esquerda; o resto da meia Brigada de artilharia, agregada à segunda Brigada, reunir-se-á e acompanhará o parque [de artilharia]. [...]

Arthur Wellesley.

[Fonte: Supplementary Despatches and Memoranda of Field Marshal Arthur, Duke of Wellington, K.G. - Vol. VI, London, John Murray, 1860, pp. 111-112. Existe uma tradução francesa desta ordem, com pequenas modificações, que o Tenente-Coronel Nicholas Trant enviou ao General Bernardim Freire de Andrade a 14 de Agosto, e publicada posteriormente por Luís Henrique Pacheco Simões (org.), na "Serie chronologica da correspondencia diplomatica militar mais importante do General Bernardim Freire de Andrade, Commandante em Chefe do Exercito Portuguez destinado ao resgate de Lisboa com a Junta Provisional do Governo Supremo estabelecido na cidade do Porto e o Quartel General do Exercito Auxiliar de S. Magestade Britanica em Portugal", in Boletim do Arquivo Histórico Militar - Vol. I, Lisboa, 1930, pp. 153-227, pp. 181-182 (incluída no doc. 14)].

Notícia publicada na Minerva Lusitana (12 de Agosto de 1808)




Almofala, 12 de Agosto.


Ontem pelas duas horas chegou à vila de Tomar um corpo de tropas francesas comandadas pelo General Loison, que assomavam a três para quatro mil homens. Estiveram acampados nos Olivais de S. André, arrebalde da dita vila, não entrando nela senão alguma cavalaria. Os motivos que obrigaram aquela tropa a dirigir-se inopinadamente para a vila de Tomar foram, dizia o General, para auxiliar e proteger os habitantes dela; mas a protecção não só não foi notável, porque não fizeram roubos dentro da vila, mas até durou pouco tempo, porque na manhã do dia seguinte aquele bando de protectores se retirou precipitadamente pelas nove horas, seguindo a estrada de Torres Novas, e deixando no campo alguns artigos que tinham roubado nos contornos, como roupas; e vários utensílios que tinham trazido, como caldeiras, etc. Souberam, por notícias que naquela vila se tinham derramado, que um corpo das nossas tropas, que montava a 3.000 homens, se achava já em Aldeia da Cruz; salteados de terror, curaram só de salvar-se, e se retiraram pressurosos.



Ordem de Junot a Domingos Vandelli, Director do Gabinete de História Natural da Ajuda (12 de Agosto de Junho de 1808)



Vista e aprovada a escolha de objectos de história natural da Ajuda, feita pelo sr. Geoffroy Saint-Hilaire, membro do Instituto e comissário de Sua Excelência o Ministro do Interior, consistindo a dita escolha, a saber, no seguinte resumo:


1.º Do reino animal:


Espécies
Exemplares
Em mamíferos
65
76
Em aves
238
384
Em reptéis
25
32
Em peixes
89
97
Em conchas
277
468
Em crustáceos
5
12
Em insectos
293
538

2.º Do reino vegetal, em 2.855 plantas secas e 25 pacotes de outras produções;


3.º Do reino mineral, em 59 artigos.


Autorizamos o sr. Geoffroy Saint-Hilaire a mandar encaixotar e a enviar todos estes objectos para Paris, para o endereço de Sua Excelência o Ministro do Interior.
A presente minuta ficará depositada nas mãos do sr. Vandelli, director geral das colecções da Ajuda, para lhe servir de recibo.
Feito em Lisboa, 12 de Agosto de 1808.


O Duque de Abrantes.


Por cópia conforme à minuta que fica na minha posse, em Lisboa, a 13 de Agosto de 1808.


D. Vandelli


[Fonte: E.-T. Hamy, "La mission de Geoffroy Saint-Hilaire en Espagne et en Portugal (1808). Histoire et documents", in Nouvelles Archives du Muséum d'Histoire Naturelle, Quatrième série - Tome dixième, Paris, Masson et C. Éditeurs, 1908, pp. 1-66, pp. 65-66].