domingo, 14 de agosto de 2011

Apresentação de O Novo Argonauta, poema de José Agostinho de Macedo, no dia 17 de Setembro de 2011, em Olhão



Fazemos um novo parêntesis na ordem cronológica que estamos a tentar seguir para anunciar que no próximo dia 17 de Setembro, pelas 16:00 horas, irá decorrer a apresentação pública da reedição do poema O Novo Argonauta, de José Agostinho de Macedo, na Sociedade Recreativa Olhanense, com a presença confirmada de António Paula Brito, da parte da APOS (Associação de Valorização do Património Cultural e Ambiental de Olhão), do professor António Rosa Mendes, do Almirante Alexandre da Fonseca e de Nuno de Varennes Ramos Chaves Berquó, pretendente do marquesado de Viana (directamente do Brasil através do Skype).

Depois de ter sido publicado originalmente em 1809, O Novo Argonauta foi alvo de uma segunda edição em 1825, tendo então Agostinho de Macedo acrescentado ao poema algumas anotações novas, bem como um novo prefácio. A actual reedição baseou-se precisamente na segunda, a partir da qual o autor das presentes linhas procedeu a uma revisão ortográfica, complementando a obra com novas anotações, ademais de dois textos que visam nada mais do que contextualiar a época e a obra.
Ainda que em termos poéticos O Novo Argonauta deixe algo a desejar, a sua importância reside no contributo histórico que deu Agostinho de Macedo para perpetuar na literatura a gesta da viagem do caíque Bom Sucesso ao Brasil (o primeiro correio marítimo a levar notícias das revoltas portuguesas à Corte no Rio de Janeiro), à qual aludimos brevemente aqui e aqui, e sobre a qual tentaremos dar o devido destaque num momento mais oportuno.


Os interessados poderão comprar os livros na sessão de apresentação, na Livraria Pátio de Letras em Faro, ou através da APOS (apos@olhao.web.pt), pelo módico custo de 6 euros.

Carta do General Bernardim Freire de Andrade ao General Wellesley (14 de Agosto de 1808)



Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor:


Pelo Coronel Trant tive a honra de manifestar a Vossa Excelência a impossibilidade em que me achava depois dos maiores esforços para seguir os movimentos do seu Exército, pela dificuldade de subsistências num país devastado e ocupado ainda pelo inimigo, e pelo pouco tempo que tínhamos tido para fazer vir do Porto ao longo da costa os mantimentos e sobretudo o biscoito que eu havia requerido e que me lisonjeei que Vossa Excelência me poderia fornecer logo que chegássemos a Alcobaça.
Sabendo pelo mesmo Coronel Trant a impossibilidade em que se achava de me fornecer com segurança este alimento indispensável, julguei do meu dever não me reduzir à nulidade, nem comprometer em tais circunstâncias, que naturalmente se agravariam de um dia para outro, a sorte do corpo que me está confiado; e não querendo ao mesmo tempo deixar de cooperar para o feliz êxito desta empresa do modo que me era possível nas actuais circunstâncias, me propus a dirigir para o Tejo, onde a presença das forças que comando poder[ia] ser útil para acelerar a revolução naquele país [=região], e porque ocupando a importante posição de Abrantes e Santarém, poria em sossego as províncias do norte, a quem se devem todos os esforços que puseram em levantar este Exército no menor espaço de tempo possível, do risco a que ficariam expostos se o Exército francês quisesse, ou para evitar o ataque do Exército britânico ou por efeito de desesperação, lançar-se sobre elas para as devastar e ir recolher-se à praça de Almeida, que ainda conserva.
Neste sentido fiz as minhas disposições e o participei ao Senhor Bispo do Porto*, e é depois disto que o mesmo Coronel Trant me comunica que Vossa Excelência, não aprovando esta medida, pretende que eu lhe forneça um corpo de mil homens de Infantaria de Linha, os Caçadores e Cavalaria, que Vossa Excelência se encarregava de sustentar, insinuando-me a responsabilidade a que fica exposto se me recusasse a esta requisição; querendo dar a Vossa Excelência provas da deferência para o bom êxito da empresa que nos ocupa, depois de ouvir o parecer dos Oficiais Generais e Superiores deste Exército, a quem me pareceu preciso consultar para me decidir num assunto de tanto momento, assentou-se geralmente que se devia deferir, quanto fosse possível, à requisição de Vossa Excelência, apesar de nos impossibilitar de algum modo para conseguir o fim que me tinha proposto.
Em consequência disto fiz logo marchar para Alcobaça, como Vossa Excelência o pretendia, dois Batalhões de Infantaria, um Batalhão de Caçadores - único corpo de tropas ligeiras que aqui tinha - e dois Esquadrões de Cavalaria, a que Vossa Excelência quer fornecer mantimentos, que junto a 50 cavaleiros que eu aqui tinha e, com o resto que me fica e com alguma mais que faço vir de Coimbra e Beira, passo a executar o projecto já mencionado, dirigindo-me amanhã a Ourém, e dali a Santarém, logo que os esforços que espero e o maior conhecimento do estado daquele posto nos permitam. Espero que Vossa Excelência, conhecendo a importância desta operação, que concorre eficazmente para facilitar os projectos de Vossa Excelência longe de os contrariar, e que me livra de maior responsabilidade, a que com justa causa ficaria exposto se abandonasse totalmente o cuidado e vigilância pela conservação das províncias a quem este Exército pertence, e que poderiam sofrer muito se uma porção do Exército francês não encontrasse resistência alguma na sua retirada, me fará a justiça de acreditar que os meus desejos serão sempre de conciliar o que devo à minha honra e ao bem de um país cuja sorte me interessa por tantos títulos. E para mostrar a Vossa Excelência quanto é para recear que o inimigo se lembre ainda de algum projecto de retirada, envio a Vossa Excelência a carta inclusa*, que foi interceptada em Tomar, e na qual Vossa Excelência observará as disposições que Loison faz para ter aprovisionamentos prontos em diversos lugares que lhe podem facilitar uma retirada, naturalmente para Elvas. E conhecendo Vossa Excelência a importância que há para o feliz êxito desta expedição, de obrarmos de acordo e de nos comunicarmos mutuamente as notícias que nos interessam, espero que Vossa Excelência quererá enviar para aqui o Coronel Trant ou outro qualquer com quem eu possa comunicar os objectos que nos interessam, o feliz êxito e combinação das nossas operações.
Quartel-General de Leiria, 14 de Agosto de 1808.
De Vossa Excelência,

Bernardim Freire de Andrade.

[Fonte: Luís Henrique Pacheco Simões (org.), "Serie chronologica da correspondencia diplomatica militar mais importante do General Bernardim Freire de Andrade, Commandante em Chefe do Exercito Portuguez destinado ao resgate de Lisboa com a Junta Provisional do Governo Supremo estabelecido na cidade do Porto e o Quartel General do Exercito Auxiliar de S. Magestade Britanica em Portugal", in Boletim do Arquivo Histórico Militar - Vol. I, Lisboa, 1930, pp. 153-227, pp. 182-184 (doc. 15)].

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Nota: 

* Estes documentos não se encontram publicados.

Carta do Tenente-Coronel Nicholas Trant ao General Bernardim Freire de Andrade (14 de Agosto de 1808)




Alcobaça, 14 de Agosto de 1808.


Meu General:

Envio-vos uma cópia traduzida duma carta que o General [Wellesley] enviou-me hoje, e que recebi pelo caminho; não posso seguramente acrescentar nada à força dos argumentos que ele utiliza a fim de que vos empenheis na vossa cooperação, ou pelo menos para que abandoneis o vosso plano de campanha. Porém, da mesma maneira amigável que sempre quis empregar nas minhas exposições sobre este assunto, não posso senão recomendar-vos, e pela última vez, pois talvez não haverá tempo de cooperar daqui a três dias, que vos junteis a nós, pois é a única conduta que vos porá ao abrigo da acusação de terdes evitado a oportunidade para dardes apoio às tropas portuguesas para o objectivo da sua independência nacional. Não é o vosso carácter pessoal, meu General, que está em questão. A vossa reputação está estabelecida e informei o General Sir Arthur Wellesley acerca da proposta que haveis feito de comandar o destacamento das vossas tropas agregadas ao nosso Exército; mas é a vossa conduta política que está em questão, e para mim nada mais há a dizer-vos oficialmente sobre este assunto; não posso senão oferecer-vos o aviso dum homem que, tendo estado junto do vosso Quartel-General, sente um interesse a tudo o que vos diz respeito. Aconselho-vos a não persistirdes no vosso plano e a juntardes-vos a nós, e em duas marchas [nos] alcançareis.
Apressadamente, mas com a mais sincera consideração por vós, meu General, o vosso devotado servidor,

Trant


[Ademais da aludida carta de Wellesley a Trant e de uma ordem de marcha dos Exércitos combinados que o General inglês tinha proposto dois dias antes, a remessa da carta acima traduzida incluía ainda o seguinte aditamento de Trant, ditado pelo próprio Wellesley, certamente depois de ambos se terem reunido em Alcobaça*]



Depois de ter desaprovado o plano de operações para Tomar e daí a Santarém, o General [Wellesley] disse:


Tenho uma proposta a fazer ao General Freire: que ele me queira enviar a sua Cavalaria e a sua Infantaria Ligeira com um Corpo de 1.000 homens de tropa de linha, para serem empregados à minha discrição.
Comprometo-me a fornecer pão a esses soldados; e em relação à carne, vinho e forragem, terão uma parte igual do que se pode fornecer às nossas tropas.
Se o General aceita esta proposta, desejaria que esses corpos se reunissem comigo em Alcobaça amanhã; e em caso contrário, peço-lhe que conduza as suas operações da maneira que ele julgue apropriada; pela minha parte, executarei as ordens que recebi do meu Governo sem o apoio do Governo português, e o General Freire terá de se justificar não só ao Governo actual do Reino [= Junta do Porto] e ao seu Príncipe, mas também ao mundo inteiro, por não se ter aprontado com antecedência nesta ocasião interessante, tendo-me recusado o apoio que ele tinha o poder de me dar.



[Fonte: Luís Henrique Pacheco Simões (org.), "Serie chronologica da correspondencia diplomatica militar mais importante do General Bernardim Freire de Andrade, Commandante em Chefe do Exercito Portuguez destinado ao resgate de Lisboa com a Junta Provisional do Governo Supremo estabelecido na cidade do Porto e o Quartel General do Exercito Auxiliar de S. Magestade Britanica em Portugal", in Boletim do Arquivo Histórico Militar - Vol. I, Lisboa, 1930, pp. 153-227, pp. 179 e p. 181 (doc. 14)].

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Nota: 

* Todos estes documentos foram enviados a Bernardim Freire de Andrade traduzidos em francês.

Carta do General Wellesley ao Tenente-Coronel Nicholas Trant (14 de Agosto de 1808)



Alcobaça, 14 de Agosto de 1808.


S.P.M.



Senhor:


O Exército acaba de chegar aqui hoje. O inimigo retirou-se da sua posição durante a noite; avisareis esta circunstância ao General Freire.
É conveniente que vos comunique, para conhecimento do General [Bernardim Freire de Andrade], algumas observações que lhe tenho a fazer sobre o Plano de Operações que ele prevê seguir com o seu corpo do Exército*E em primeiro lugar, devo-lhe assinalar que ele não se considera de modo algum obrigado cooperar as suas forças com as minhas, que por consequência devem ser consideradas como distintas em si mesmas, [embora] sustentando algum objecto no qual as minhas tropas devem ser empregadas.
Quer eu seja muito fraco em termos de números [de homens] para lutar contra o General Junot, ou quer possua meios suficientes, não se poderá assim conciliar uma combinação militar entre as tropas portuguesas e as minhas; pois o meu objectivo é obter a posse de Lisboa, e é isso que necessito absolutamente fazer, sejam quais forem as consequências até que o consiga efectuar, sendo este essencialmente o meio mais eficaz para desapossar os franceses do Reino de Portugal. O inimigo pode livrar uma batalha comigo e então retirar-se, ou pode retirar-se sem lutar, ou até poderá (o que espero ser o menos provável) fugir em debandada; no primeiro caso não tenho nenhum apoio do General Freire, e nos dois primeiros, que espero serem os mais prováveis, devo pela minha parte fixar a minha atenção sobre a ocupação de Lisboa e do Tejo, e deixar o General Junot retirar-se para onde bem lhe pareça.
Consideremos assim o caso que é mais provável, atendendo à sua conduta, no caso de que ele fuja ou seja obrigado a retirar-se, deixando-me assim marchar sem interrupção até Lisboa. Tudo leva a crer que, seguramente, ele lançar-se-á sobre esse corpo do Exército que pode com justiça ser qualificado de Núcleo do Exército português, o pilar da contra-revolução e o suporte da Monarquia, o qual, no estado da sua existência actual, será certamente destruído, caso o General Freire persista em comprometer-se ao ponto de adoptar esse Plano de Operações. Que ele faça um cálculo do estado efectivo relativo aos dois exércitos e que reflicta sobre as consequências duma batalha entre mim e o General Junot. Com a superioridade da sua cavalaria**, é possível que, supondo que obterei sucesso, o [restante] exército de Junot não será suficiente para poder destruir aquele que o General Freire comanda. E Junot terá nesse caso outro objectivo [senão fugir]? Contudo, o General Freire conta com a probabilidade da minha perseguição de Junot, e que eu correrei em seu socorro para evitar o perigo que o ameaçar. Certamente o farei, mas somente se tiver assegurada a posse de Lisboa e do Tejo.
Examinemos agora porque é que esse plano tinha sido adoptado: o General diz que é necessário para [providenciar] a subsistência das tropas. A minha resposta é que não é bem assim, pois ele encontraria subsistências para as suas tropas em todo o lado, e se fizesse boas disposições, seria abastecido com abundância. Nesta mesma vila abasteci-me hoje de pão que teria sido suficiente para todo o Exército português, e estou bastante convencido, segundo esta observação, que a região costeira pela qual devo marchar é a parte mais produtiva de Portugal.
Declaro que o Plano de Operações que foi proposto tem tantos defeitos que recomendaria ao General que se não me quer acompanhar, é melhor que fique em Leiria ou que marche para aqui, onde pode igualmente subsistir, e esperar em toda a segurança o resultado da batalha que deve ocorrer dentro de poucos dias.
Diz-se que o inimigo passou a Óbidos; e eu marcharei amanhã.
Sou,


Arthur Wellesley




Cópia da original e traduzida,


Trant ***

[Fonte: Luís Henrique Pacheco Simões (org.), "Serie chronologica da correspondencia diplomatica militar mais importante do General Bernardim Freire de Andrade, Commandante em Chefe do Exercito Portuguez destinado ao resgate de Lisboa com a Junta Provisional do Governo Supremo estabelecido na cidade do Porto e o Quartel General do Exercito Auxiliar de S. Magestade Britanica em Portugal", in Boletim do Arquivo Histórico Militar - Vol. I, Lisboa, 1930, pp. 153-227, pp. 180-181 (incluída no doc. 14)].
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Nota: 

* O aludido novo plano de operações (que não deveria diferir muito do acordado no Conselho Militar a 13 de Agosto) proposto pelo General Bernardim Freire de Andrade foi comunicado a Wellesley numa carta datada do dia 13 de Agosto (a qual, pelo que conseguimos apurar, nunca foi publicada), e tinha sido motivado pela resposta negativa que o General britânico tinha dado, nesse mesmo dia, à requisição que lhe tinha feito o dito General português, através do Tenente-Coronel Nicholas Trant, pedindo que o Comissariado britânico alimentasse com pão o Exército português. .


*Isto, é, a cavalaria portuguesa, com a qual contava Wellesley em caso de batalha, devido aos reduzidos recursos da cavalaria britânica.


**Pouco depois de receber esta carta, Nicholas Trant enviou uma cópia da mesma, traduzida em francês, ao General Bernardim Freire de Andrade. É dessa tradução que deriva a nossa, visto que o texto original em inglês não se encontra compilado na correspondência publicada de Arthur Wellesley.

Notícia publicada na Minerva Lusitana (14 de Agosto de 1808)



Leiria, 14 de Agosto



O Exército inglês, que na noite do dia 13 tinha acampado a sua esquerda em S. Jorge e a direita em Aljubarrota, marchou no dia 14 para Alcobaça, e se lhe foram unir dos nossos, mil fuzileiros, 400 caçadores, e 200 de cavalo. O nosso Exército ocupa ainda hoje o campo de Leiria; mas todas as disposições indicam próximo movimento.

Ordem do dia de Junot sobre uma derrota do exército espanhol e sobre a chegada de reforços ao exército francês em Portugal (14 de Agosto de 1808)



Quartel-General de Lisboa, 14 de Agosto de 1808.

Soldados! Houve uma grande batalha entre o Exército francês e o Exército espanhol reunido nas províncias de Castela e de Galiza, entre Benavente e o Douro: o Exército espanhol foi completamente batido; e perdeu a maior parte da sua artilharia. O General francês prossegue nas suas vantagens; e 20.000 homens do seu Exército entraram em Portugal pela cidade de Bragança. Esta forte Divisão marcha para Lisboa, e em breve, valorosos soldados, podereis abraçar os vossos camaradas. Como eles, haveis contentado a NAPOLEÃO O GRANDE: como eles sereis recompensado: o vosso General em Chefe saberá fazer-vos ante Sua Majestade a justiça que mereceis. Rodeados de inimigos, uma parte dos quais, na verdade, se acha enganada, estejamos sempre prontos a combater e a perdoar!

O Duque de Abrantes.

Por cópia conforme, 
O General, Chefe do Estado-Maior General, 
Thiebault

Carta do Juiz Vereador do Alandroal para Lagarde, sobre o restabelecimento da tranquilidade naquela zona do Alentejo (14 de Agosto de 1808)



Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Conselheiro do Governo e Intendente Geral da Polícia do Reino: 

Recebi seis ofícios de V.ª Ex.ª com algumas gazetas dos acontecimentos e notícias de Portugal e da Espanha, que tudo se achava demorado nos correios por causa da revolta do Alentejo. 
Agora não tenho a noticiar a V.ª Ex.ª senão que depois do acontecimento e exemplo da cidade de Évora estamos restituídos ao antigo sossego. 
Deus Guarde a V.ª Ex.ª 
Alandroal, 14 de Agosto de 1808 

O Juiz Vereador José António Paiva[?] 

[Fonte: Arquivo Histórico Militar, 1.ª div., 14.ª sec., cx. 175, doc. 32].