quinta-feira, 18 de agosto de 2011

From the Desk to the Throne. A New Quick Step by Joseph Bonaparte. The Bass by Mess.rs Nappy and Tally, caricatura gravada por Thomas Rowlandson, segundo desenho de G. Sauler Farnham (18 de Agosto de 1808)



Da escrivaninha ao trono.
Um novo passo rápido por José Bonaparte.
O baixo pelos Messieurs Nappy e Tally.
Caricatura gravada por Thomas Rowlandson, segundo desenho de G. Sauler Farnham, publicada a 18 de Agosto de 1808.


Esta caricatura alude à rápida ascensão de José Bonaparte, de simples advogado a Rei de Espanha (no entanto, tal não corresponde literalmente à verdade: ainda que de facto começasse por exercer advocacia, José Bonaparte, depois do seu irmão ascender ao poder, foi nomeado embaixador e depois ministro plenipotenciário da França, e finalmente Rei de Nápoles, cargo que abandonou em Maio de 1808 para ir ocupar o trono da Espanha). 
Um papel afixado na parede indica que a cena passa-se dentro do escritório do Notário público de Bayonne, cidade francesa onde Napoleão logrou a coroa da Espanha através da abdicação da família real espanhola, trespassando logo de seguida a dita coroa ao seu irmão. Como que interpretando um passo de dança (com música tocada por Napoleão e Talleyrand, como indica o subtítulo), José Bonaparte, vestido como um advogado, equilibra-se com a ponta do seu pé direito sobre o varão duma escrivaninha, enquanto se esforça por alcançar com o seu pé esquerdo a cidade de Madrid, no centro dum Mapa de Espanha e Portugal afixado na parede. Ao mesmo tempo, ergue sobre a sua cabeça umas almofadas franjadas, sobre as quais se vê um ceptro e a coroa de Espanha. 
Todos os funcionários do gabinete olham com espanto para tal passo. Um que se encontra na extrema direita da gravura afirma que passo prodigioso para um escriturário dum notário
Ao seu lado, outro pergunta: Porque vais tu, José, tão murcho [wither]?
José Bonaparte, que de facto é representado com uma expressão triste, olha para baixo e responde-lhe: Para onde [whither] - senão para cumprir o meu alto destino? E como o meu nobre irmão dominar o ceptro de outro! 
Em primeiro plano, outro funcionário declara que ele vai necessariamente por onde o Diabo o conduz, o que lhe pode custar o pescoço!
Finalmente, o último funcionário improvisa uma quadra inspirada no provérbio inglês There's many a slip between the cup and the lip (cujo sentido talvez seja mais compreensível através do dito português "não deites foguetes antes da festa"), mas trocando o termo cup por tankard (caneca), em aparente alusão à (injusta) fama de bêbado de José Bonaparte no território espanhol, onde ficou conhecido como Pepe Botella (literalmente, "Zé Garrafa")

Mas os provérbios falam de muitos deslizes
Entre a caneca e os lábios
E realmente estou inclinado a dar 
Crédito ao provérbio enquanto viver. 



Outras digitalizações:



Brown University Library (a preto e branco).


Ordem do dia do Exército britânico (18 de Agosto de 1808)



Quartel-General da Lourinhã, 18 de Agosto.


O Tenente-General [Wellesley] ficou plenamente satisfeito com a conduta das tropas na acção de ontem, particularmente com a bravura revelada pelos Regimentos n.os 5, 9, 29, 60 e 95, parte dos quais caiu a combater o inimigo.
Pelo exemplo proporcionado pelo seu comportamento na acção de ontem, o Tenente-General sente confiança para dizer que as tropas irão distinguir-se onde quer que o inimigo lhes possa  dar outra ocasião; e somente necessita recomendar-lhes para atenta e firmemente preservarem a ordem e regularidade, e obedecerem estritamente às ordens que os Oficiais possam dar.

G. B. Tucker, Deputado-Ajudante-General


Carta do General Wellesley ao Almirante Charles Cotton (18 de Agosto de 1808)


Lourinhã, 18 de Agosto de 1808.


Meu caro Senhor:

Tenho o prazer de informar-vos que ontem derrotei o corpo de Laborde, numa acção cujas circunstâncias estão detalhadas no ofício anexo, destinado a Sir Hew Dalrymple, que peço que examineis, e que lhe envieis na primeira oportunidade. Fui informado que o inimigo perdeu 1.500 homens. As nossas baixas são cerca de 70 mortos, 350 feridos, e uns poucos desaparecidos, incluindo oficiais.
Espero enfrentar-me com o total do seu exército num dia ou dois, e, em qualquer caso, espero estar nas vossas vizinhanças pouco depois. Se Junot, que está com o exército, decidir retirar-se, deverei estar em Mafra depois de amanhã, segundo espero; mas recomendo que não desembarqueis os vossos soldados da marinha, etc., até que tenhais novas notícias de mim. 
Estão com o Capitão Bligh 2.500 homens comandados pelo General Anstruther, e decidi desembarcá-los amanhã.
Acreditai em mim,

Arthur Wellesley

[
Fonte: Lieut. Colonel Gurwood (org.), The Dispatches of Field Marshal the Duke of Wellington, K. G. during his various campaigns in India, Denmark, Portugal, Spain, the Low Countries, and France, from 1799 to 1818 – Volume Fourth, London, John Murray, 1835, p. 88].

Carta do General Wellesley a Lord Castlereagh, Secretário de Estado da Guerra (18 de agosto de 1808)



Lourinhã, 18 de Agosto de 1808 


Meu caro Senhor: 

Os meus ofícios de ontem e de hoje informar-vos-ão sobre o estado das circunstâncias aqui. Nunca vi uma luta tão desesperada como no ataque que fez Lake à passagem [no alto das montanhas], e nos três ataques que os franceses fizeram sobre as nossas tropas nas montanhas. Estes ataques foram feitos no seu melhor estilo, e as nossas tropas defenderam-se admiravelmente; e se as dificuldades do terreno não me tivessem impedido de levar um número suficiente de tropas e de canhões, teríamos tomado todo o exército.
Eles dizem que os franceses perderam 1.500 homens, o que é um número grande; mas penso que que eles tinham mais de 6.000 homens na acção.
Logo que Anstruther desembarque, dar-vos-ei uma conta do que resta do exército francês; mas receio que não conseguirei obter uma vitória completa; isto é, não conseguirei destruí-lo completamente pela falta de cavalaria
Acreditai em mim, etc. 

Arthur Wellesley

P.S.: Incluo uma carta para o sr. Borough sobre a morte de Lake, e uma para Lord Longford, onde lhe digo que o seu irmão encontra-se bastante bem.


Carta do General Wellesley a Lord Castlereagh, Secretário de Estado da Guerra (18 de agosto de 1808)




Lourinhã, 18 de Agosto de 1808 


Meu Senhor: 

Já depois de vos ter escrito na noite passada, soube pelo Brigadeiro General Anstruther que ele se encontra na costa de Peniche, com a frota de provisões e de navios de transporte chefiada pelo Capitão Bligh, do Alfred, com uma parte da força destacada da Inglaterra, comandada pelo Brigadeiro General Acland, em consequência de ter recebido as cartas com as ordens que tinha deixado na baía do Mondego para o General Acland, as quais ele abriu. 
Ordenei ao Brigadeiro General Anstruther para desembarcar imediatamente; e marchei para este lugar, com o objectivo de proteger o seu desembarque e facilitar a sua junção. 
Durante a noite passada, o General Loison juntou-se ao General Laborde, em Torres Vedras; e fui informado que ambos começaram a marchar em direcção a Lisboa nesta manhã; também me informaram que o General Junot chegou hoje a Torres Vedras, com um pequeno corpo de Lisboa; e concluo que a totalidade do exército francês estará reunida entre Torres Vedras e a capital nos próximos dias. 
Tenho a honra de ser, etc. 

Arthur Wellesley


Carta do General Wellesley ao General Bernardim Freire de Andrade (18 de Agosto de 1808)



Quartel-General na Lourinhã, 18 de Agosto de 1808.


Senhor: 

Tive a honra de receber as vossas diversas cartas, e a mensagem que tão gentilmente me haveis enviado através do cavalheiro [Joaquim] Pais [de Sá].
Garanto-vos que nada me dará maior satisfação do que concorrer e cooperar convosco em todos os ajustes que possam parecer necessários para o reestabelecimento da Monarquia portuguesa; e creio que nenhuma medida é mais apropriada para isso do que a posse antecipada de Lisboa pelas tropas das Potências aliadas. Tenho procedido nesta base, e assim continuarei a agir. Vossa Excelência informou-me na vossa última carta* que tencionava unir as tropas debaixo do vosso comando ao Exército debaixo do meu; e haveis requerido que eu vos informasse em que lugar seria conveniente que vos reunísseis a nós. Eu vim aqui proteger o desembarque e favorecer a junção de um corpo de 5.000 homens que acabou de chegar da Inglaterra. Eles irão desembarcar amanhã, e deverei estar nos arredores de Torres Vedras depois de amanhã. 
Recomendo que estejais ali nesse dia. Tereis ouvido dizer que derrotei o corpo do General Laborde ontem. Os franceses perderam 1.500 homens, segundo fui informado; e diz-se que o próprio Laborde foi morto. Loison e Laborde juntaram-se na noite passada em Torres Vedras**, e entendo que se retiraram de Torres Vedras. 
Tenho a honra de ser o mais obediente e humilde servidor de Vossa Excelência.

Arthur Wellesley

[Fonte: Luís Henrique Pacheco Simões (org.), "Serie chronologica da correspondencia diplomatica militar mais importante do General Bernardim Freire de Andrade, Commandante em Chefe do Exercito Portuguez destinado ao resgate de Lisboa com a Junta Provisional do Governo Supremo estabelecido na cidade do Porto e o Quartel General do Exercito Auxiliar de S. Magestade Britanica em Portugal", in Boletim do Arquivo Histórico Militar - Vol. I, Lisboa, 1930, pp. 153-227, p. 192-193 (doc. 23)].
_____________________________________________________________
Nota: 


* Agradecemos publicamente a Moisés Gaudêncio por nos ter dado a conhecer a referida carta de Bernardim Freire de Andrade a Wellesley, a qual não se encontra publicada na citada "Serie chronologica..." (apesar de aparecer referenciada no índice de tal corpo documental).


*O excerto que sublinhámos foi publicado originalmente no chamado Diário do Exército de Operações da Estremadura.

Carta do Comendador Joaquim Pais de Sá, enviado ao Quartel-General britânico, ao General Bernardim Freire de Andrade (18 de Agosto de 1808)




Lourinhã, 18 de Agosto, pelas 9 horas da noite.


Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor:

Recebo a carta de Vossa Excelência de 17, e igualmente vi a que Vossa Excelência dirigiu ao General Sir Arthur Wellesley, o qual como responde dirá a Vossa Excelência o seu parecer sobre a direcção da sua marcha, a qual eu direi (se Vossa Excelência mo permite) [que] deve ser rápida, para ver se se pode fazer a reunião antes da batalha, que eu creio [que] se deve dar bem depressa. Os ingleses devem desembarcar amanhã mais tropas que se devem logo reunir a estas. Laborde com a sua tropa passou esta manhã por Torres Vedras, levando coisa de 30 prisioneiros ingleses; Laborde foi ferido gravemente, e se diz que morreu um General francês, mas creio que há engano nesta segunda parte. Os ingleses tiveram 300 a 400 homens entre mortos e feridos, segundo hoje me disse o General, com o qual aqui jantei, entrando no número dos primeiros alguns oficiais. Os franceses, além da sua boa situação, se bateram muito bem, mas no combate não entraram 9 Regimentos ingleses. Uma bomba caiu ao pé do General em Chefe, mas não arrebentou por sua felicidade. Por Torres passaram muitos feridos franceses e os suíços foram levados para Peniche. Calcula pois o General a sua perda em 500 a 600 homens. Agora chegam dois homens que dizem que Junot entrara em Torres Vedras ao meio-dia com 4 mil homens. Torres fica daqui distante duas léguas. Loison marchava hoje com força para se reunir a Laborde. Esta manhã mandei um dos soldados com uma carta para Vossa Excelência com as notícias que ontem pude alcançar, o outro fica enquanto Vossa Excelência dele não dispuser. Aqui achei hoje o Coronel Pizarro, o qual como escreve a Vossa Excelência dará conta de si. Logo que possa ter o gosto de ir encontrar a Vossa Excelência, lhe referirei mais alguma particular circunstância.
Sou de Vossa Excelência o mais atento venerador efectivo criado. 

O Comendador Joaquim Pais de Sá

P.S. O General me acaba de ler agora a carta que lhe escreve; nela verá Vossa Excelência que ele espera aqui reunir-se às tropas que devem desembarcar amanhã, e que deseja muito poder-se reunir a Vossa Excelência em Torres ou nas suas vizinhanças.

[Fonte: Luís Henrique Pacheco Simões (org.), "Serie chronologica da correspondencia diplomatica militar mais importante do General Bernardim Freire de Andrade, Commandante em Chefe do Exercito Portuguez destinado ao resgate de Lisboa com a Junta Provisional do Governo Supremo estabelecido na cidade do Porto e o Quartel General do Exercito Auxiliar de S. Magestade Britanica em Portugal", in Boletim do Arquivo Histórico Militar - Vol. I, Lisboa, 1930, pp. 153-227, p. 194 (doc. 24)].

Carta de Gaspar de Sousa Pizarro, Coronel adido ao Quartel-General britânico, ao General Bernardim Freire de Andrade (18 de Agosto de 1808)



Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor: 

Ontem escrevi a Vossa Excelência em casa do General [Wellesley], e como ele quer ver sempre o que eu escrevo, não tive remédio senão pôr um recado que me deu, tal qual, o que me aborreceu infinito por ver que era demasiado forte; porém eu não entendo como seja bem dirigido isto a Vossa Excelência, combinando-o com a resposta que Vossa Excelência me deu. Seria preciso que Vossa Excelência se aproveitasse dos bois que o Excelentíssimo Senhor Bispo enviava ao Quartel-General para ele se poder queixar, e para isto, ter Vossa Excelência a comissão de lhos mandar dar, o que não é provável, e portanto não entendo; o que eu desejo é persuadir a Vossa Excelência que eu só escrevo o que me dizem, e assim como eu digo a Vossa Excelência o que me obrigam, o que Vossa Excelência me mandar que eu diga prontamente o hei de fazer. O Exército veio hoje da Lourinhã para o Vimeiro, e aqui se espera o reforço inglês que desembarca nesta costa. Dizem que a força francesa toda veio hoje para Torres [Vedras], onde veio ajuntar-se Junot. Tudo está aqui acampado, e nada há mais de novo hoje que eu saiba. 
De Vossa Excelência criado muito afectivo e obrigado, 

Gaspar de Sousa e Quevedo Pizarro

[Fonte: Luís Henrique Pacheco Simões (org.), "Serie chronologica da correspondencia diplomatica militar mais importante do General Bernardim Freire de Andrade, Commandante em Chefe do Exercito Portuguez destinado ao resgate de Lisboa com a Junta Provisional do Governo Supremo estabelecido na cidade do Porto e o Quartel General do Exercito Auxiliar de S. Magestade Britanica em Portugal", in Boletim do Arquivo Histórico Militar - Vol. I, Lisboa, 1930, pp. 153-227, p. 192 (doc. 22)].

Carta secreta do Brigadeiro-General Frederick von Decken ao General Hew Dalrymple, Comandante do Exército britânico em Portugal (18 de Agosto de 1808)



Porto, 18 de Agosto de 1808


Senhor:

Como o Bispo do Porto manifestou-me que me queria ver em privado, a fim de me fazer uma importante comunicação, que desejava que se mantivesse secreta, fui ao seu Palácio na noite passada, a uma hora tardia. O Bispo disse-me então que tinha tomado o Governo de Portugal nas suas mãos, mas a sua intenção era restabelecer o Governo do seu legítimo Soberano, e esperava que Sua Majestade o Rei da Grã-Bretanha não tivesse outro objecto em mente quando enviou as suas tropas para este país. Depois de lhe ter dado todas as garantias sobre este assunto, o Bispo continuou: que como o Príncipe Regente, ao deixar Portugal, estabelecera uma Regência para governar este país durante a sua ausência, ele considerava que tinha o dever de abdicar do Governo e dispô-lo nas mãos da Regência, logo que fosse possível.
Respondi que não tinha instruções do meu Governo sobre este assunto, mas roguei-lhe para considerar se a causa do seu Soberano não se prejudicaria ao abdicar do Governo nas mãos da Regência, que, como tinha agido debaixo da influência dos franceses, tinha perdido a confiança da Nação; e se não seria mais aconselhável que ele continuasse a deter o Governo, até que a vontade do Príncipe Regente fosse conhecida.
O Bispo admitiu que a Regência nomeada pelo Príncipe Regente não possui a confiança do povo,  que vários dos seus membros agiram de tal maneira que aparentam ser amigos e partidários dos franceses, e que, em todo o caso, nem todos os membros da antiga Regência podiam ser restabelecidos no seu poder anterior; contudo, ele teme que as províncias da Estremadura, Alentejo e Algarve não reconhecerão a sua autoridade, se o Governo britânico não interferir. 
Depois de uma longa conversação, acordámos que eu deveria informar aos nossos Ministros aquilo que o Bispo me comunicou, e que, de forma a não se perder tempo à espera duma resposta, o Bispo quis que comunicasse o mesmo a vós, expressando a vontade de lhe escreverdes uma carta oficial, onde lhe referireis a vossa vontade em que ele detenha o Governo, até que a vontade do seu Soberano seja conhecida, para bem das operações das tropas britânicas e portuguesas debaixo do vosso comando.
O secretário do Bispo, que serviu de tradutor, disse-me depois, em privado, que rebentaria uma enorme confusão se o Bispo abdicasse do Governo neste momento, ou se se associasse com pessoas que nem são queridas nem estimadas pela nação.
Peço licença para acrescentar que, apesar do Bispo ter expressado o contrário, todavia parece-me que ele não se opõe a manter o Governo nas suas mãos, se tal pudesse ser feito pela interferência do nosso Governo. 

Brigadeiro-General


Edital da Junta do Porto proibindo a circulação da moeda francesa (18 de Agosto de 1808)