sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Reclamação de D. Carlota Joaquina e de D. Pedro Carlos de Borbon e Bragança ao Príncipe Regente, sobre as suas legítimas pretensões ao trono da Espanha, resposta à mesma, e respectivos manifestos (19 e 20 de Agosto de 1808)



Reclamação de D. Carlota Joaquina e de D. Pedro Carlos de Borbon e Bragança ao Príncipe Regente





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Resposta do Príncipe Regente




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Manifesto de D. Carlota Joaquina




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Manifesto de D. Pedro Carlos

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Nota: 

D. Pedro Carlos de Bourbon e Bragança (1786-1812), nascido em Aranjuez, tinha ido para Portugal com tenra idade, pouco depois de aos 2 anos ter ficado órfão de ambos os pais. Foi aí criado inicialmente pela rainha D. Maria I (da qual era neto) e depois adoptado como filho pelo próprio Príncipe D. João, seu tio. Era igualmente sobrinho, mas por via paterna, de D. Carlota Joaquina (bem como neto de D. Carlos III, o que lhe valia o título de Infante de Espanha). Como fica entendido, D. Pedro Carlos acompanhara a viagem da família real para o Rio de Janeiro.

Carta do Secretário de Estado da Guerra do Governo britânico, Lord Castlereah, ao General Wellesley (19 de Agosto de 1808)



Downing Street, 19 de Agosto de 1808.

 
Senhor:

Recebi e entreguei ao Rei os vossos dois ofícios de 26 e de 28 de Julho*, dando os detalhes das vossas operações, desde o tempo do vosso desembarque no Porto, até ao desembarque das vossas forças, no rio Mondego, na expectativa imediata de serdes reforçado pela divisão comandada pelo General Spencer. Esta circunstância, associada à rendição do exército do General Dupont, à retirada do Marechal Bessières, e à evacuação de Madrid, ligada à assistência que devereis ter recebido dos portugueses, permitir-vos-ão começardes as vossas operações sem demora; e a máxima confiança é colocada não menos nas vossas decisões do que na vossa prudência.
Também devo expressar a aprovação de Sua Majestade pela autoridade com que vos julgastes incumbido para permitirdes ao Major General Spencer para fazer um empréstimo de dinheiro aos espanhóis, e de tomardes sobre vós a responsabilidade de tal medida, caso o Major General Spencer tivesse sentido a necessidade de agir em conformidade com as vossas instruções.
Tenho a honra de ser, etc.,

Castlereagh

[Fonte: 
Lieut. Colonel Gurwood (org.), The Dispatches of Field Marshal the Duke of Wellington, K. G. during his various campaigns in India, Denmark, Portugal, Spain, the Low Countries, and France, from 1799 to 1818 – Volume Fourth, London, John Murray, 1835, pp. 89-90].


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Nota: 

* Refere o editor da obra donde extraímos esta carta que como não houve nenhum ofício de Wellesley datado de 28 de Julho, tal referência deve tratar-se de uma gralha, e que a passagem deveria ler-se da seguinte maneira: “os vossos dois ofícios de
26 de Julho e de 1 de Agosto” . Deve-se porém acrescentar que nesta última data Wellesley escreveu duas cartas a Castlereagh, uma de teor público, e uma outra privada ou secreta.

Diário do General John Moore (19 de Agosto de 1808)



Audacious, 19 de Agosto.

Partimos de St. Helens na manhã de 31 de Julho. O vento estava muito desfavorável, e somente dobrámos o cabo Finisterra no dia 16 de Agosto. Encontrámos uma fragata, através da qual fomos informados que Sir Arthur Wellesley tinha desembarcado com as suas tropas no rio Mondego. Sir Harry Burrard passou a uma fragata e partiu para o Porto, esperando orientar-se pelas informações que aí deveria receber. Ele ordenou-me a ficar na barra de Vigo até que tivesse notícias suas. Soprava então um vento de nordeste, e chegámos a Vigo logo no dia 17. Comunicámos com outra fragata, através da qual se confirmou o desembarque de Sir Arthur Wellesley no Mondego. Com o vento que soprava então de nordeste, Sir Harry Burrard viu-se impossibilitado para me enviar ordens. Pensei que, como estavam as coisas, era melhor partir o Porto. Quando chegámos, no dia de ontem, fomos informados que Sir Harry tinha partido na tarde anterior para o Mondego. Fomos ainda informados da rendição do corpo do General Dupont e também que Sir Arthur estava na sua marcha para Lisboa, pois tinha-se reunido com o corpo do General Spencer vindo de Cádis. Partimos, e estamos agora à vista do Mondego, mas privados de vento.

Carta do Capitão William Warre a remetente desconhecido (19 de Agosto de 1808)



Lourinhã, a 12 milhas a sul de Peniche, 19 de Agosto de 1808.


Tenho apenas tempo de vos dizer que estou bem e em perfeita segurança. Tivemos uma acção muito disputada anteontem, numa forte posição na Roliça, perto de Óbidos. No início, os franceses estavam solidamente posicionados na planície, e depois retiraram-se para uma montanha quase inacessível. Mas o que pode resistir à valentia dos nossos bravos camaradas? Eles subiram a montanha expostos a um fogo tremendo, e impeliram os inimigos a retirarem-se para várias milhas de distância, matando um grande número e tomando duas peças de canhão. O nosso exército perdeu cerca de 500 homens, entre mortos e feridos, e uma proporção muito grande de oficiais. O 29.º Regimento foi o que sofreu mais, tendo perdido 19 oficiais entre mortos e feridos, estando o Coronel (Lake) no número dos primeiros. O 9.º [Regimento] também sofreu, e o meu pobre amigo Stuart foi ferido gravemente, e receio que venha a morrer. Morreu o Capitão Bradford, do 3.º Regimento de Guardas [escocesas], e um Tenente, R. Dawson, um camarada bastante bravo. A nossa brigada, tendo sido enviada para girar sobre a direita, chegou muito tarde, e pouco participou na acção. Perdemos uns poucos homens – 5 ou 6 – e o pobre Capitão Geary da artilharia, depois de ter disparado 4 tiros sobre o inimigo no mais perfeito estilo. 
Os franceses combateram com a máxima bravura, e a sua retirada honra o seu carácter militar. Eles eram muito inferiores a nós em números, e foram inicialmente comandados por Laborde, que, segundo se diz, está gravemente ferido, e depois por Junot, que chegou de Lisboa, apesar da sua coluna não ter chegado a tempo. Todas as contagens apontam que as suas baixas são perto de 1.000 homens. A ordem do dia agradece aos Regimentos n.os 9, 29, 5 e aos corpos de caçadores pela sua nobre conduta. Apesar de obrigados de vez em quando a trepar com as mãos e pés, nada pôde travar a sua impetuosidade. Coitado do Stuart, que ao cair chamou os seus oficiais para verem que o seu jovem regimento cumpria o seu dever, e não para se preocuparem consigo. Pobre e querido amigo, receio que acabe por morrer.
Marchámos para este lugar ontem, a fim de proteger o desembarque das tropas comandadas pelo General Anstruther, e acabámos de receber ordens para avançar em direcção a Lisboa.
Os franceses retiraram-se, durante toda a noite da acção, pela estrada nova. Desejava que os tivéssemos perseguido, mas confio em Sir Arthur Wellesley.
Até agora tivemos uma marcha bastante incómoda debaixo do sol, e temos sofrido muito devido ao calor, apesar de todos estarmos com saúde e muito animados. Daremos aos franceses umas boas bofetadas onde quer que os encontremos, e em 3 ou 4 dias estaremos em Lisboa vitoriosos...


Carta de Junot a Lagarde (19 de Agosto de 1808)


Torres Vedras, 19 de Agosto de 1808


Senhor Intendente Geral da Polícia:


Um corpo de dois mil homens do General Laborde teve antes de ontem uma acção com o Exército inglês. Esta acção durou cinco horas, sem que as minhas tropas recuassem um passo. De tarde, e durante a noite, o General Laborde veio tomar uma posição conforme eu lhe havia ordenado, para nos pudermos juntar. Com efeito, nós nos unimos ontem à noite. O inimigo está em aperto. Amanhã o hei de atacar, e espero que lhe saberemos fazer ver quanto nós podemos.
Aí haverá sem dúvida mil boatos ridículos; não deis crédito, porém, senão ao que eu vos escrever. Alguns prisioneiros feitos esta manhã me asseguraram que o 6.º e 29.º Regimentos ingleses foram destruídos; o Coronel deste último Regimento foi morto, assim como uma grande parte dos seus Oficiais. O Major e seis Oficiais foram aprisionados.
Tenho a honra de vos saudar.

O Duque de Abrantes


[Fonte: Gazeta de Lisboa, n.º 31, 24 de Agosto de 1808].

Notícias publicadas na Minerva Lusitana (19 de Agosto de 1808)



Coimbra, 19 de Agosto.


Dizem que chegara à Figueira outra frota tanto ou mais numerosa que a primeira; mas ainda não sabemos com suficiente autenticidade o número das tropas que traz, e tampouco se hão de desembarcar na Figueira ou noutro ponto da costa mais apropriado para as operações do Exército.
Chegaram Quarta-feira 10 prisioneiros franceses.

Carta do Comendador Joaquim Pais de Sá, enviado ao Quartel-General britânico, ao General Bernardim Freire de Andrade (19 de Agosto de 1808)


Vimeiro, 19 de Agosto de 1808, pelas 6 horas da tarde.


Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor:

Ontem escrevi a Vossa Excelência e escreveu também o General [Wellesley], e se mandaram as cartas por um homem da Lourinhã, pois que os dois correios não apareceram senão esta manhã. O General em Chefe [Wellesley] deseja ver cooperar o Exército português com o seu, principalmente no momento da batalha, que naturalmente terá lugar por estes dois ou três dias.
Este lugar onde actualmente se acha todo o Exército não dista senão meia légua de Maceira, onde deve desembarcar mais tropa inglesa, e uma ao sul da Lourinhã. Se o tempo o permitir, desembarcarão amanhã, pois que o comboio está na costa, mas neste mesmo caso duvido que o Exército se ponha amanhã em marcha para Torres Vedras, que é daqui distante duas léguas. 
Parece certo que Junot, Loison e Delaborde (se é vivo) estão reunidos em Torres, mas creio que nada por ora se pode ajuizar aos seus ulteriores intentos. 
A respeito do combate de anteontem, em lugar de 1.500 entre mortos e feridos em que se reputa a perda dos franceses, eu percebi 500 a 600, e assim escrevi a Vossa Excelência.
De Vossa Excelência, etc., 

Joaquim Pais de Sá

[Fonte: Luís Henrique Pacheco Simões (org.), "Serie chronologica da correspondencia diplomatica militar mais importante do General Bernardim Freire de Andrade, Commandante em Chefe do Exercito Portuguez destinado ao resgate de Lisboa com a Junta Provisional do Governo Supremo estabelecido na cidade do Porto e o Quartel General do Exercito Auxiliar de S. Magestade Britanica em Portugal", in Boletim do Arquivo Histórico Militar - Vol. I, Lisboa, 1930, pp. 153-227, pp. 194-195 (doc. 25)].