sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Carta do Tenente-Coronel Murray ao General Dalrymple (26 de Agosto de 1808)




Lisboa, 26 de Agosto de 1808.

Senhor:

O General Kellermann acabou de me informar que chegou a notícia de que os portugueses avançaram até Santarém, em número de dois mil homens; e que, como isto não é conforme aos artigos do acordo do passado dia 22, o Comandante em Chefe do Exército francês requer que ireis tomar aquelas medidas que pareçam mais apropriadas para evitar que eles se estendam para além da linha de demarcação fixada no acordo acima referido.
Tenho a honra de ser, etc.,

George Murray

Carta do Tenente-Coronel Murray ao General Dalrymple (26 de Agosto de 1808)





Lisboa, 26 de Agosto de 1808.

Meu caro Senhor:

Hoje de manhã eu e o General Kellermann pusemos mãos à obra, e progredimos com boa tolerância; espero que pelas doze horas de amanhã já tenhamos acabado.
Um dos artigos mais importantes que já estão escritos é o relativo à evacuação de Peniche, Almeida, Elvas e Palmela, assim que as nossas tropas consigam chegar para render as guarnições francesas, e de alguma forma para proteger a sua retirada.
Nos meus memorandos referia-se que as tropas francesas deviam ser obrigadas a atravessar para o outro lado do Tejo. Penso que este empurrão poderia levar a uma condescendência da nossa parte em relação a outros pontos realmente mais importantes, e a própria operação poderia tender a atrasar consideravelmente a preparação do embarque.
Foi feita uma proposta para levar o [navio] Vasco da Gama e algumas fragatas, face à qual declarei categoricamente que nunca poderia concordar. Eles querem ter os fortes de S. Julião e do Bugio até ao embarque da última divisão. Destes, penso que pelo menos o de S. Julião está fora de questão. Foi feita uma sugestão esta noite, sobre a troca de prisioneiros espanhóis por um número igual de franceses; penso que devemos tê-los sem troca.
Se vos tiver ocorrido uma outra sugestão que me possa ser útil, rogo para que ma forneceis assim que vos for possível.
Talvez seja aconselhável que ocorra um encontro entre os Comandantes em Chefe em Cascais, quando a ratificação for assinada; e se tal vos parecer devido, rogo-vos que mo informeis.
Acreditai em mim, etc., 

George Murray

Carta do General Junot ao General Dalrymple (26 de Agosto de 1808)



Senhor:

Recebi a carta com que Vossa Excelência me honrou, a qual me foi entregue pelo senhor Coronel Murray. Comuniquei imediatamente as minhas observações ao senhor Almirante Séniavin, e apesar de já ter sido acordado entre nós, senhor General em Chefe, que a frota russa seria compreendida no tratado da evacuação, o senhor Almirante russo consente em tratar directamente com o senhor Almirante Cotton.
Uma vez adoptada esta base pelo Almirante russo, que reunirá sempre os seus interesses aos nossos, e reciprocamente da minha parte, não vejo inconveniente algum em continuarmos a nossa negociação, tomando como base os outros artigos da suspensão de armas. Consequentemente, designei o senhor General de Divisão Kellermann como meu representante; mas não esconderei a Vossa Excelência que teria antes preferido uma entrevista convosco, a qual, se pudesse ocorrer, removeria muitas dificuldades. Observarei, assim, que a suspensão de armas fica prolongada indefinitivamente até que Vossa Excelência me proponha um prazo, o qual aceitarei, sendo-me completamente indiferente a duração dessa suspensão; porém, é necessário um prazo suficientemente moral para tratar interesses de tão grande importância.
Tenho a honra de ser com a mais alta consideração,
De Vossa Excelência, Senhor, 
O mais humilde e obediente servidor,

O Duque de Abrantes,
General em Chefe do Exército francês em Portugal.

No Quartel-General em Lisboa, 26 de Agosto de 1808.

Plano de Wellesley para as operações do Exército anglo-luso (26 de Agosto de 1808)



Ramalhal, 26 de Agosto de 1808.


1. A totalidade do exército marchará amanhã de manhã, dia 27, para as colinas deste lado [=norte] de Torres Vedras. Isto deve depender do resultado da missão do Coronel Murray. Se Junot se declarar pronto a negociar, provavelmente o General [Dalrymple] não estará disposto a apresentar o seu exército tão perto da linha de demarcação [rio Sizandro]; em caso contrário, quanto mais rápido nos movermos, melhor.

2. No dia 28, as seguintes brigadas marcharam pela sua esquerda para o Sobral [de Monte Agraço], a saber:

                                  A brigada do Major General Hill.
                                  A brigada do Major General Ferguson.
                                  A brigada do Brigadeiro General Nightingall.
                                  A brigada do Brigadeiro General Crauford.
                                  A brigada do Brigadeiro General Fane.
                                  A brigada do Brigadeiro General Bowes.
                                  O regimento n.º 20 de dragões ligeiros.
                                  A cavalaria portuguesa.
                                  A infantaria portuguesa comandada pelo Coronel Trant.
                                  Uma brigada de artilharia de calibre 9.
                                  Duas brigadas de artilharia de calibre 6.
                                  Munições, etc., de reserva, do parque [de artilharia] do Coronel Robe.

3.  A infantaria do corpo do Tenente-General Moore, que conta com 5.000 ou 6.000 homens, desembarcará o mais rápido possível, e reunir-se-á neste campo. Desembarcarão e reunir-se-ão no mesmo lugar três brigadas de artilharia e os seus respectivos cavalos, e também a cavalaria. Supõe-se que este desembarque esteja concluído ao entardecer do dia 28.

4. Na manhã do dia 29, as tropas que ficaram neste campo marcharão para [Enxara dos] Cavaleiros, na estrada para Cabeça de Montachique. O exército português na Lourinhã marchará no mesmo dia para S. Pedro da Cadeira, na estrada para Mafra, e os corpos que estiverem em Sobral de [Monte Agraço] marcharão para S. Antão de Tojal. Se se descobrir que as tropas francesas continuam na posição da Cabeça de Montachique, as tropas mover-se-ão no dia seguinte, 30, por Loures, para atacarem o inimigo na Cabaça de Montachique pela retaguarda, que será ao mesmo tempo atacado pela frente pelas tropas vindas de [Enxara dos] Cavaleiros; e as tropas portuguesas marcharão nesse dia 30 para Mafra. Estes corpos marcharão como se segue: no dia 28, por Runa para o Ramalhal; no dia 29, por Runa e Torres Vedras para [Enxara dos] Cavaleiros; no dia 30, pela mesma estrada, a não ser que o inimigo se retire. Se o inimigo se retirar, então por Cabeça de Montachique e Loures.

5. As restantes forças da infantaria do corpo de Sir John Moore devem desembarcar o mais rápido possível depois do primeiro desembarque da infantaria, cavalaria e artilharia. Este corpo de infantaria deve reunir-se, enquanto reserva, no campo do Vimeiro, e marchar no dia 30 pela estrada em direcção a Mafra e a Sintra, mantendo aberta a sua comunicação com o mar, e recebendo os seus suprimentos das provisões da frota [britânica].

6. Todos os navios que agora se encontram no ancoradouro na Maceira [=praia do Porto Novo] partirão para a boca do Tejo, à excepção de um transporte de provisões, um de material bélico, um com feno e aveia, e um hospital naval, que devem permanecer com o Capitão Bligh, que comunicará diariamente com o corpo que se reunirá no campo do Vimeiro, e que deverá marchar pela estrada de Mafra.

7. Os outros corpos serão aprovisionados da forma seguinte: Os corpos que agora estão no campo receberão pão para três dias (29, 30 e 31), ao amanhecer do dia 28. Os corpos que marcharão para Sobral [de Monte Agraço] serão assistidos pela brigada do seu comissariado, cujas mulas transportarão pão para três dias, e carne para três dias. Os cavalos da cavalaria e da artilharia receberão na manhã do dia 28 grãos para três dias (29, 30 e 31).

8. Será enviado com este corpo, em carros, pão para três dias para a infantaria e cavalaria portuguesa.

9. Os carros à disposição do comissariado levarão para cima de 100.000 libras de pão, carne, álcool, etc., que assistirão os movimentos dos corpos, na sua marcha no dia 29 do campo para [Enxara dos] Cavaleiros. Estimando o consumo destas tropas em 15.000 rações diárias, terão pão que chegue até 4 de Setembro.

10. De forma a executarem-se estas disposições, será necessário que hoje, dia 26, se consigam mais de 560 sacos de pão, que supostamente desembarcaram ontem; que todo o pão esteja neste campo amanhã de manhã, dia 27; que se desembarquem mais 960 sacos no dia 27 em Maceira [=praia do Porto Novo]; e que se enviem os carros vazios no dia 27 para a Maceira, para que possam estar cheios no dia 28, e prontos a partir no dia 29. O corpo que desembarcará e que estará sobre o campo de Torres Vedras no dia 27, deverá ter consigo pão para cinco dias, até ao dia 31, inclusive.

Arthur Wellesley


Diário do Exército de Operações da Estremadura (26 de Agosto de 1808)




Quartel-General da Lourinhã, 26 de Agosto de 1808.


O nosso Exército, que tinha marchado de Coimbra a 9 e 10 de Agosto, de acordo com o Exército inglês que marchava de Lavos, aonde tinha feito o seu desembarque, entrou em Leiria a 12 de tarde, aonde já estava o Quartel-General do Exército britânico comandado por Sir Arthur Wellesley. Este, no dia seguinte de manhã, continuou a sua marcha, e a 14 acampou e pernoitou em Alcobaça. Entretanto as nossas tropas ficaram ocupando a posição de Leiria, que naquelas circunstâncias se tornava interessante; pois que o General Loison com um corpo de 6 a 7 mil homens se conservara ainda por além da Serra de Minde. No dia 16, tendo Loison chegado a Rio Maior, retrocedeu logo, e se foi reunir em Alcoentre, no mesmo dia, com o General em Chefe Junot, e ambos se ajuntaram com a Divisão de Delaborde, que tendo feito frente à marcha do Exército inglês desde Aljubarrota, Caldas e Óbidos, fora destacada para a importante e fortíssima posição da Columbeira. Nestas circunstâncias convinha que o nosso Exército se reunisse ao inglês para combater o inimigo, e já de Leiria lhe tínhamos mandado ajuntar 2 Batalhões de Infantaria de Linha, um de Caçadores, e 2 Esquadrões de Cavalaria. [A]demais, neste mesmo tempo constou que o Exército da Beira, comandado pelo Brigadeiro Bacelar, se adiantava de Castelo Branco para as margens do Tejo e do Zêzere, e cobria por isso daquela banda as três províncias do norte.
No dia 18 se pôs o Exército em marcha de Leiria, e nesse mesmo dia chegou a Alcobaça. Por toda a parte éramos recebidos pelos povos como Libertadores, particularmente pelos de Aljubarrota e Alcobaça. No célebre Mosteiro desta vila estava posta uma mesa magnífica, aonde cearam mais de 150 Oficiais de todas as graduações, e o Exército, acampado no rossio do mesmo Mosteiro, fazia pelo clarão das suas fogueiras uma excelente vista.
No mesmo dia 18, vindo em marcha, recebeu o General em Chefe a notícia de terem os nossos paisanos comandados por Manuel de Castro, Capitão do Regimento n.º 12 de Cavalaria, atacado no dia antecedente a guarnição francesa de Abrantes, que constava de 200 homens; destes ficaram 50 mortos e 112 prisioneiros, e o resto fugiu para a outra margem do Tejo, donde é quase certo que não escaparam. 
No mesmo dia 18 desembarcaram os ingleses em Paimogo coisa de 5.000 homens, que se diz virem directamente de Inglaterra. 
No dia 19 continuámos a marcha para as Caldas, e apesar de dois rebates, que depois se verificaram falsos, e que nos obrigaram por ambas as vezes a unir a nossa linha e esperar as bagagens, entrámos na vila às 5 da tarde. Pouco antes de chegarmos às Caldas, recebemos a agradável notícia de ter um corpo de tropas inglesas, a que se unira o Batalhão de Caçadores do Porto, alcançado uma grande vantagem das armas francesas. Eis aqui a cópia da carta que o Excelentíssimo General Wellesley remeteu ao Excelentíssimo General Bernardim Freire.

Vós sabereis que derrotei ontem o corpo do General Delaborde; os franceses perderam 1.500 homens, segundo me informaram; até se diz que o mesmo Delaborde fora morto. As Divisões Loison e Delaborde se reuniram na noite passada em Torres Vedras.
Tenho a honra de ser, etc.
Wellesley
18 de Agosto de 1808.

Este combate foi visto por muitas pessoas destas vizinhanças, e segundo a sua informação daremos uma relação dele, enquanto não aparecerem notícias oficiais inglesas.



Combate da Columbeira


No dia 17 de Agosto marchou o Exército inglês para a Roliça; o inimigo ocupava pouco adiante um monte quase inacessível, fortificado com três peças de artilharia, e defendido por 4.000 homens comandados por Delaborde e Thomiers. Nas planícies que ficavam antes do monte, estavam postados os franceses, porém logo que foram atacados se retiraram perdendo alguma gente. O General inglês mandou atacar o posto pela frente e pelo flanco esquerdo; nesta segunda coluna iam primeiro os Caçadores ingleses, e após eles os do Porto, comandados pelo Major Manuel Velho. O ataque dos ingleses foi sumamente vigoroso, e apesar das descargas do inimigo, iam sempre avançando, e subiram ao cume do monte, que em partes era tão escarpado que parecia impossível ganhá-lo pela frente. Ao mesmo tempo a coluna da esquerda tinha flanqueado o inimigo, e fazia sobre ele um aturado fogo; ele, vendo-se quase cortado, começou a retirar-se em grande desordem, abandonando 2 peças; concorreu muiyo para a sua fugida o corpo de Cavalaria, que lhe começava a rodear a ala direita. Os ingleses perseguiram o inimigo até à Zambujeira por espaço de mais de meia légua, e lhe tomaram a terceira peça. Os franceses perderam 300 a 400 mortos, entre os quais se conta o mesmo Delaborde, que teve uma bala no pescoço. Os ingleses perderam 40 a 50 mortos, em cujo número entra um Coronel, [e] 200 feridos, quase todos levemente. O combate terminou às 5 da tarde, tendo começado pelas 9 da manhã.
Às 7 horas da noite do dia 19, tendo as tropas entrado nas Caldas, e estando a receber as suas distribuições, deram-se dois tiros nos nossos postos avançados; vieram notícias que [as]seguravam a aproximação do inimigo, o qual, achando-se no Cadaval e Cercal, estava muito ao alcance de nos poder atacar, e lhe convinha muito fazê-lo para evitar a nossa junção com o Exército inglês; tocou-se a rebate em consequência disso, e foram obrigadas as tropas a conservar-se toda a noite em armas; e por isso foi ao outro dia que se puderam municiar e dar-lhes algum descanso, de que careciam; este incidente não permitiu que se avançasse no dia seguinte além de Óbidos. Nesta vila tivemos notícia que o inimigo levantara campo ainda de noite, e que se encaminhara pela Premoniz [sic] para as bandas de Torres Vedras.
Na manhã de 21 ouvimos uma fortíssima canhonada, que foi para nós o anúncio da famosa batalha do Vimeiro, vista por todos os estes povos, e segundo suas informações daremos dela uma relação individual, enquanto não se publica o oficial. 



Batalha do Vimeiro


Junot tinha partido de Lisboa com toda a gente que pôde reunir, e se ajuntou com Loison, Delaborde, e Kellermann, e todos os Generais de Brigada, com ânimo de dar uma batalha geral aos ingleses. De noite fizeram conduzir a sua artilharia e colocar as suas tropas de sorte que ocupassem parte dos montes que rodeavam o Exército inglês. 
No dia 21, perto das 9 horas, começaram a atacar o centro e a direita da posição dos ingleses, procurando ao mesmo tempo o voltar a sua esquerda; o seu primeiro ímpeto foi bastantemente forte; porém a firmeza da linha britânica lhe resistiu inabalável, e excede todos os elogios. Nem um momento esteve indecisa a vitória; os ingleses iam sempre ganhando terreno, até que desalojaram os franceses dos seus postos.
O Regimento 60 de Caçadores e os Reais escoceses fizeram maravilhas; a Brigada da Infantaria portuguesa, que ficava na ala esquerda, se portou com muito valor. Mas o que mais decidiu a acção foi a superioridade de força de artilharia a cavalo inglesa; trazem montadas peças de calibre 12; movem-nas com grande rapidez, e destroem todos os pontos contra os quais as assestam. Junot estava numa eminência observando o combate, donde mandava as suas ordens, e tinha consigo uma reserva de 3.000 homens.
A Infantaria francesa começou a perder terreno e a desordenar-se; teve então o Coronel de Cavalaria inglesa ordem de atacar; incorporados com ele andavam dois Esquadrões portugueses, que sustentavam a honra da sua nação; ao mesmo tempo que os combinados começavam a carregar sobre o inimigo, saiu de um pinhal um grande Corpo de Cavalaria francesa; eles porém combateram muito animosamente, e apesar da superioridade do número e [de] estarem mais de quatrocentos passos adiante da linha inglesa, desenvolveram-se perfeitamente bem. Junot, vendo o seu Exército em total derrota, mandou tocar a retirada, e não quis arriscar a reserva, que lhe servia de guarda; todo o seu Estado-Maior se viu correr à rédea solta. Os frutos desta memorável acção foram 21 peças de artilharia, mil e duzentos mortos e oitocentos prisioneiros, entre os quais se contam os dois Generais Brenier e Arnaud; o primeiro, sendo ferido, caiu e foi aprisionado por um Sargento e um Cadete portugueses. O número dos feridos não pode ser menos de 2 a 3.000; muitos destes conduziram os franceses em carros para Torres Vedras; outros ficaram pelos montes, e a generosidade portuguesa os vai recolhendo; só no Hospital desta pequena vila da Lourinhã se acham mais de 20 gravemente feridos; bem diferentes a este respeito os nossos opressores, que têm contra nós exercitado todo o género de crueldades. A perda dos ingleses não excede entre mortos e feridos a 500 homens.



Continuação das Operações do Exército português


No dia 22 saímos de Óbidos para a Lourinhã; o inimigo nos ficava pelo flanco esquerdo, e vimos do caminho alguns dos seus piquetes de homens a cavalo, que pareciam observar a nossa marcha. O nosso General em Chefe mandou pelo Tenente Manuel Ferreira Sarmento dar parte ao General inglês da nossa próxima chegada, o qual mandou dizer pelo mesmo Oficial que ia ser acometido pelos franceses, e que lhe caíssemos sobre a retaguarda. Como porém era de recear que o inimigo quisesse impedir a nossa junção com o Exército britânico, e que nos atacasse, fizemos alto, postos em linha de batalha, querendo ganhar mais algum conhecimento dos seus verdadeiros intentos. Tendo esperado hora e meia e vendo que não aparecia, tomámos o caminho do Vimeiro, que fica daqui uma pequena légua, vila [sic] onde estava o estava o General inglês. Indo em caminho, soubemos que o piquete que produzia o rebate no campo inglês acompanhava o General francês Kellermann, que vinha a entrar em negociações. Acampámos em consequência num sítio que fica daqui a meio caminho de Vimeiro; e se pode considerar actualmente que o nosso Exército faz com o inglês um único combinado de ambas as nações. 
Desde Leiria até à Lourinhã fizemos 13 léguas de marcha, tendo sempre o inimigo no flanco esquerdo, o qual nunca nos quis atacar, apesar de ter dobradas forças dos nossos; uma tal marcha em que sempre nos aproximávamos mais e mais ao inimigo, parecerá talvez temerária a muitos; mas era necessário, e prova pelo menos que não nos poupamos a risco algum para ter a Glória de entrar na acção.


Decreto de Junot à Junta do Depósito (26 de Agosto de 1808)



Em nome de Sua Majestade o Imperador dos franceses, Rei de Itália, Protector da Confederação do Reno. 
Nós, o Duque de Abrantes, General em Chefe do Exército de Portugal, temos decretado e decretamos o seguinte: 

Art. 1.º Os administradores do Depósito Público entregarão em vinte e quatro horas na caixa do Recebedor Geral dos rendimentos de Portugal a soma de oitenta contos de réis, ou 500.000 francos, em espécies metálicas. O Recebedor Geral dará um recibo, que será conservado na caixa do Depósito Público. 

Art. 2.º A dita soma de 80 contos de réis, ou 500.000 francos, será principalmente empregada aos pagamentos relativos à administração de Portugal. 

Art. 3.º O Erário ficará responsável no Depósito Público da dita soma, que será tirada do rendimento ordinário de Portugal e entregue na caixa do Depósito Público. 

Art. 4.º Imediatamente depois que a entrega tiver sido feita na dita caixa da dita soma de 80 contos de réis ou 500.000 francos pelos administradores do Depósito Público, os selos que foram gastos nas caixas e livros da Administração serão tirados à diligência de Mr. Le Goy. A dita administração tornará a tomar o exercício das suas funções na forma das leis e regulamentos que a regem. 

Art. 5.º O Secretário do Interior e das Finanças está encarregado da execução do presente decreto. 

Dado no nosso Palácio do Quartel-General em Lisboa, a 26 de Agosto de 1808. 

O Duque de Abrantes 


Joaquim Guilherme da Costa Posser 

Mandado cumprir pela Junta do Depósito por despacho de 29 de Agosto de 1808. 


[Fonte: Raul Brandão, El-Rei Junot, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, s.d., pp. 183-184].